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O PAYS DO PITANGUY

Livro escrito por Raimundo Rabello

 

APRESENTAÇÃO

 

Primeiramente devemos celebrar e aplaudir o surgimento desta notável e oportuna pesquisa histórica fadada a se tornar, por certo, indispensável nas estantes de quem ama Pitangui, simplesmente, ou de quem a conservará como obra de referência – tanto historiadores quanto genealogistas.

É digna de homenagear o tricentenário do município, efeméride de superior relevância que ocorrerá em 9 de junho de 2015, em meio a vibrantes celebrações cívicas e artísticas, além de ruidosos festejos populares e missa solene, como já se propala.

Pelo modo original de apresentação dos fatos históricos, coerente ordenação de capítulos e tópicos e,

principalmente pela agradável clareza da narrativa – ágil e enxuta – , o professor Rabello dá vida,

expressividade e movimento a uma história regional exuberante e surpreendente – merecedora, portanto,

de maior difusão.

O desbravamento dos sertões do Centro-Oeste Mineiro pelos pró-homens de Pitangui (bandeirantes e

sertanistas ali estabelecidos com suas minas de ouro) possibilitou a colonização e o consequente

povoamento do Alto São Francisco e de regiões do Paraopeba, do Pará, Indaiá e Abaeté.

A administração portuguesa dava às regiões geográficas mais amplas o nome de continente ou país.

Este vocábulo entrou na composição do topônimo País do Pitangui, isto é, do rio Pitangui.

Com a instalação da Junta Governativa passou a vigorar Minas do Pitangui, ainda aludindo ao histórico

manancial cujo nome foi alterado para rio Pará.

Esse “país” era um dos pouquíssimos enclaves de civilização surgidos na virada do século XVII nas

luxuriantes e aterrorizantes florestas habitadas por índios e que viriam a ser a Capitania de Minas Gerais.

Situava-se o “país do Pitangui” entre os incultos vales dos mencionados rios, permeados por outros

importantes caudais. Equivalia a cerca de vinte e quatro mil quilômetros quadrados – algo bem maior

que Chipre, Jamaica, Líbano, El Salvador, Eslovênia ou Montenegro, e quase o nosso Sergipe.

O que focalizarei na Apresentação desta obra serão apenas esparsos lampejos sobre uma região ampla

e diversificada.

No ano de 1.706, quando a civilização mineira dava os primeiros passos, o bandeirante Anhanguera,

que se tornaria legendário, descobre ouro nas barrancas do São João, afluente do Pará e subafluente do

São Francisco. Ali o histórico bandeirante passa a explorar clandestinamente diversas minas e funda

o arrabalde São João do Pitangui, fazendo o mesmo no Batatal, que hoje fica no perímetro urbano – isto já

em 1709. Mais e mais mineradores foram se estabelecendo.

Naquele mesmo ano outros bandeirantes chegam àquela região de generosas minas do metal, bem como no

Brumado, Sant’Ana do Ribeirão da Onça e outros locais também produtores. Entre eles estavam Antônio Rodrigues Velho (o Velho da Taipa), os irmão Campos Bicudo e o futuro revolucionário Domingos Rodrigues do Prado. Construíram casas de taipa e humilde capela no Morro do Batatal.

Em 1.715, com população e atividades crescentes, além de centenas de escravos e capatazes na mineração e na lavoura, o governo português resolve erigir em “vila” o movimentado burgo. Vilas eram, como as cidades de hoje, sedes de municípios.

Em decorrência elegeu-se Câmara, vereadores e juiz, eis que já existiam desde a primeira Junta Governativa, quádrupla, de 1714, liderada pelo Anhanguera, as figuras de intendente, capitão-mor, oficiais de milícia, fiscais de minas, companhia de ordenanças e escrivão.

Imenso território tomado aos índios estava sob a égide da vila, com grandes latifúndios (sesmarias), que fora, com o tempo, divididos em produtivas fazendas.

O ouro que brotava das minas financiava a expansão agropecuária e geográfica.

Desse primitivo e imenso território originaram-se mais de 40 municípios. Eram eles, naqueles primeiros tempos, arraiais de “povos pitanguienses”, conceito difundido por alguns genealogistas quando se referem aos povoadores daqueles sertões. Tal qualificação, povos pitanguienses, objetiva distinguir uma identidade cultural provinda dos valores, tradições e costumes herdados dos desbravadores e de seus descendentes, além das significativas heranças das culturas africana e indígena.

Pitangui constituiu-se em um dos berços da civilização mineira, como uma das oito “vilas do ouro” criadas na década de 1710, sendo a primeira, Mariana, e a última, Tiradentes. Foram elas os pilares sobre os quais se ergueu oficialmente a Capitania das Minas em 1.720, como enfatiza o Autor.

As antigas vilas de São José del Rei (Tiradentes) e de Paracatu, esta pertencente na época ao bispado de Pernambuco, tentaram anexar partes do imenso território de Pitangui, este subordinado ao bispado do Rio de Janeiro. O prelado nordestino chegou a estabelecer por algum tempo seu poder eclesial – que abrangia o rio Paracatu – até as terras do São Francisco, e que hoje constituem municípios que eram da jurisdição de Pitangui, como Dores do Indaiá e Bom Despacho, entre outros da bacia do Velho Chico, como o Abaeté e Indaiá.

Tendo suas bases e escravarias já fincadas em Pitangui, bandeirantes e sertanistas provenientes de São Paulo, Taubaté e Itu, principalmente, e seus descendentes, penetraram as florestas do Baixo Pará, Alto São Francisco e Alto Paranaíba.

Estabeleciam grandes fazendas e criavam povoados, na busca do ouro, chegando até o Desemboque, já nos lindes do Triângulo Mineiro, participando da fundação desse arraial, no chamado Sertão da Farinha Podre. Ali encontraram ouro, bem como no Bambuí e no “País do Piῦi”.

O surgimento de uma “sociedade bandeirante” (simbolismo de Afonso Arinos de Melo Franco), na região Centro-Oeste de Minas, foi o coroamento de ingente trabalho e lutas, posto que nela haviam surgido muitos e resistentes quilombos, assaltantes e ameaçadoras tribos indígenas ainda não combatidas, além dos óbices interpostos por uma natureza agressiva e por doenças tropicais.

A partir da segunda década do Século do Ouro, o Setecentos, Pitangui se constituiu, pelo desenvolvimento e posição geográfica favorável, graças à convergência de estradas diversas, além da ligação por bandeirantes e tropeiros com as novas minas de Goiás, em importante centro comercial regional. Esta última, conhecida como Rota do Poente, ou Caminho do Sol, ligava Sabará, Pitangui, Paracatu e Vila Boa, ou Cidade de Goiás, antiga capital. Mapas da época apontam essas “picadas”, ligando Sabará a Goiás, passando por Pitangui e Paracatu. Indicam também os vários Registros (alfândegas) funcionando no território de Pitangui ou dele caudatários.

Articulava, por meio de inúmeras e grandes tropas de muares e também das boiadas (comitivas) o escoamento da produção das fazendas do Vale do São Francisco (chamadas Currais da Bahia), e do vale do Pará, no sentido de Ouro Preto e do Rio de Janeiro. Importava bens do litoral, distribuindo-os no Centro-Oeste mineiro. Com isso, Pitangui irradiava de modo duradouro a civilização e a cultura, tornando-se a “terra-mãe” de dezenas de municípios que nos primórdios haviam sido seus distritos ou áreas de influência.

A obra nos traz, portanto, os fascinantes fastos da “Velha Serrana”, uma alegoria em duas palavras: a primeira, Velha, encerra respeito e veneração à história e às tradições da cidade e do município; a segunda evoca suas belas serranias.

Mergulhou o autor em antigos arquivos e em esplendida bibliografia, para revelar a saga daqueles pioneiros num painel vivo e ocasionalmente dramático.

Nota-se na obra análises e reflexões críticas – quando cabíveis – ao modo dos modernos trabalhos acadêmicos, além da visão sociológica e política presente nos capítulos em que são abordadas realidades como escravidão, aristocracia rural e estruturas de poder nos tempos coloniais.

O ilustre professor não excluiu lendas e mitos da terra pitanguiense. Utiliza-os porém, habilmente, como instigantes introitos à história real de figuras lendárias.

Enriquece ainda mais o livro esboços biográficos de dezenas de bandeirantes, revolucionários, coronéis, padres e grandes damas; fidalgos da Casa Real e cavaleiros da Ordem de Cristo, destacando os que deixaram geração no município.

Há ótimos trabalhos de historiadores que se debruçaram sobre o memorável passado pitanguiense. O presente livro situa-se também no nível daquelas preciosidades da Historiografia. É, porém, mais abrangente, sobretudo por conter valiosos dados históricos de dois dos vários ex-distritos – Leandro Ferreira e Conceição do Pará –, além da trajetória mais completa de grandes vultos. Veja-se, por exemplo, a saga de Domingos Rodrigues do Prado, o chefe revolucionário, e a do lendário Anhanguera, mentor, por 10 anos, dos líderes dos sangrentos motins e rebeliões de Pitangui, cuja batalha final envolveu 900 combatentes e 200 patrulheiros, maior luta colonial.

Nessa maior abrangência incluem-se dois capítulos dedicados a pitanguienses que se tornaram grandes vultos nacionais: Padre Belchior Pinheiro de Oliveira, um dos baluartes de nossa Independência, e Gustavo Capanema, dotado de brilhante inteligência, visão de estadista e possuidor de invulgar imaginação criativa, empregada na concepção e execução da maior revolução jamais havida no Ensino e na Cultura do país. “A grande dimensão da obra que Capanema realizou foi o início do Brasil Novo”, sintetizou o Autor.

Do mesmo modo, outra inédita e igualmente importante contribuição para a Historiografia sobre Pitangui está no emocionante capítulo “A devassa da Inconfidência atinge Pitangui direta e indiretamente”. É o relato do impiedoso calvário vivido por três personalidades que devem ser honradas como heróis, permanentemente, em atos cívicos, a saber: O irmão de Tiradentes, padre Domingos da Silva Xavier, vigário da vara de Pitangui e advogado; João Francisco das Chagas, encarcerado como conjurado por 2 anos e seis meses por ser amigo do bravo Inconfidente padre José da Silva e Oliveira Rolim; João de Souza Costa, irmão do excelso poeta e Inconfidente doutor Cláudio Manoel da Costa.

João das Chagas, capataz de fazenda, era pitanguiense de nascimento; o reverendo Silva Xavier e o comerciante Souza Costa, o foram por adoção.

Concluímos esta Apresentação com a sensação de haver lido, nos originais (o que muito nos honrou), a obra talvez mais abrangente e elucidativa já produzida sobre a antiga Pitangui e a região geográfica em que está inserido o histórico município.

 

por José Raimundo Machado

 

Promotor cultural e pesquisador da história e do folclore pitanguienses. É também instrumentista e compositor, além de artista plástico. São dele as ilustrações desta obra. Ex-presidente da Sociedade Amigos de Pitangui e do Circuito Turístico Verde – Trilha dos Bandeirantes e atual conselheiro. Ex-membro do Conselho do Instituto Histórico de Pitangui. É empresário do ramo do turismo e Membro do Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira. Autor do projeto Caminho Colonial Minas-Goiás/História e Cultura, aprovado pelas principais cidades do roteiro e pelas Secretarias de Turismo dos dois estados.

PREFÁCIO

                                                                                                                                                                                                         

       

Para os que gostam de História, este livro é uma surpresa, é preciosa contribuição para a memória da cidade de Pitangui, “o Pays do Pitanguy”.

Aparece às vésperas do tricentenário do município, uma das “vilas do ouro 1710 - 1711”, belo presente às justas comemorações que se programam.

A importância do excelente livro, amparado em séria bibliografia, se revela no texto que não se desviou da história do município, tornando-se relevante para a formação da História do Estado de Minas Gerais.

O livro é exemplo, é inspiração para levantarem a História de outros municípios, preservando a memória histórica

do Estado.

O leitor ficará atento aos capítulos, de  boa leitura,  dentro de plano estabelecido, que permitiu entrosamento e 

harmonia na exposição dos fatos.

A atração pela riqueza levou o explorador aos sertões  bravios, abriram caminhos, ampliaram fronteiras e

edificaram as “vilas do ouro”.

Em Pitangui, ao que tudo indica, esse pioneirismo se iniciou com as atividades do Padre Doutor Damião,

primeiro vigário colado da extensa Paróquia, criada em 1703 e provida vinte e um anos depois, período em que

ficou sem os benefícios religiosos.

Mons. Vicente Soares, na História de Pitangui, escreveu que o Pe. Damião foi diversas vezes até as cabeceiras

do rio São Francisco, uma delas com o Procurador da Câmara, João Veloso Falcão, com o guia  Batista Maciel,

com a finalidade de tomar posse do “pais do Piui”, onde o Pe. Damião celebrou a primeira missa em 1731,

conforme consta do Dicionário Histórico Geográfico de Minas Gerais, 1971, Ed. Promoção da Família.

Padre Damião, foi um verdadeiro bandeirante, alargou e traçou os limites de sua extensa paróquia.

Não pode ficar sem registro que Pitangui era um centro civilizado naqueles imensos sertões dos Cataguazes,

englobando mais de quarenta municípios.

O povoamento, a exploração aurífera, epopeias que o autor descreve com acerto, levou os bandeirantes e

faiscadores até ao Rio das Velhas, na antiga Comarca do Desemboque, hoje reduzida a algumas casas e

fazendas e um cemitério abandonado, nas serras da Babilônia e da Zagaia, no caminho para o sertão da Farinha

Podre (Triângulo Mineiro).

O livro não é apenas narrativa do autor, nem apenas uma pesquisa bem-ordenada às fontes primitivas,

circunstâncias que dão colorido ao texto, contém uma bonita tonalidade antropológica, uma contribuição

sociológica e política para a História do município e de Minas Gerais, exemplo de historiografia, onde o aspecto

folclórico não ficou esquecido.

O Pays de Pitangui, mais de 200 páginas, dividiu-se em três partes; Pitangui na rota do ouro, Leandro Ferreira e Conceição do Pará “evocando as principais bandeiras que penetraram o solo mineiro, especialmente as que foram ter às terras primevas da região de Pitangui”, “breve síntese do início da colonização portuguesa em Minas Gerais”.

O ilustre autor, com tantas láureas conquistadas, traz de volta a história das bandeiras, da formação da Capitania, do ouro de Pitangui, das bandeiras e dos bandeirantes e do sertão; a “devassa” da Inconfidência e muita coisa mais.

Não esqueceu de mencionar o Padre Belchior de Oliveira, testemunha do episódio da Independência e que até hoje aguarda que lhe façam honras dando-lhe um monumento e uma sepultura digna da sua importância histórica.

Rememora episódios dos tempos coloniais de Pitangui, não esqueceu a pitoresca “rebelião da cachaça”, sempre os impostos...

A epopeia do desbravamento vem na segunda parte do livro, sob o título Leandro Ferreira, onde a capacidade do historiador, em resumos admiráveis, traça a história de Leandro e de sua família.

Fecha a trilogia a história de Conceição do Pará,  o desbravamento da região, os seus habitantes, os índios e as fazendas,  “O Pays de Pitangui”, volto a dizer, excelente trabalho se encerra com uma conclusão  lógica: ali se encontra a  sua História.

O livro não deverá faltar às boas bibliotecas de História e só me resta dizer: em nome do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e no meu próprio, agradecer presença nas suas páginas.

 

por Jorge Lasmar

Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais 

 

SOBRE O AUTOR

                                                                                                                                                                                        

 

Com sagacidade e sutileza – atributos que lhe são próprios – o Professor Rabelo conseguiu lavrar uma cativante

obra histórica, que ganha vida em minucioso e rico cenário.

 

Com esmero e afinco, permeou fecunda referência bibliográfica, integrada por raras obras, arquivos, notas cartorárias e

mapas, dentre outras fontes.

A cada capítulo que se lê, vêm à tona o encantamento e a vibração, aguçando a volúpia cognitivo-literária.

 

O Payz do Pitanguy nos insere no secular percurso histórico do Município de Pitangui, coroando o seu já próximo

tricentenário.

 

O Professor Rabelo, cônscio da importância da crença religiosa que circunda a vida e obra do Padre Líbério, sob o título

“Um Santo nas Terras do Poente”, dedica-lhe belíssimo texto, que retrata a sua vida missionária.

 

Em epítome, esta obra de escol transcende a simples leitura, pois leva o leitor a uma verdadeira inserção no seu

realístico contexto, que abrange e envolve, dentre outras, temáticas como expedições, bandeiras, rebeliões,

inconfidência, lendas, histórias, pioneirismo, santidade, sinhôs e sinhás, coronéis e matriarcas, e povoadores.

 

por Faiçal David Freire Chequer

Reitor da Universidade de Itaúna

 

MATÉRIA PUBLICADA NO JORNAL "O INDEPENDENTE", DE PITANGUI.

 

LIVRO INOVA EM ESTUDO SOBRE PITANGUI

 

"O Payz do Pitanguy", de Raimundo Rabello, é obra completa sobre a origem do município.

 

Ricardo Welbert 

A origem da sétima vila do ouro de Minas Gerais e a importância histórica de pessoas que nela viveram são explicadas em detalhes no livro "O Payz do Pitanguy", do professor Raimundo Rabello.

 

Quem leu o rascunho original da obra já a considera indispensável às estantes dos pitanguienses, historiadores e genealogistas que a terão como referência. No livro, os fatos de uma história exuberante são ordenados em capítulos e tópicos coerentes – característica literária do autor, conhecido por sua escrita clara, ágil e enxuta. O texto mostra detalhes do desbravamento dos sertões do Centro-Oeste por bandeirantes e sertanistas estabelecidos em Pitangui com suas minas de ouro, que possibilitou o povoamento do Alto São Francisco e de regiões do Paraopeba, Pará, Indaiá e Abaeté.

 

Payz

A administração portuguesa dava às regiões geográficas mais amplas o nome de continente ou país. Este vocábulo entrou na composição do topônimo "payz do Pitanguy", isto é, do rio Pitangui. Esse "país" era um dos poucos enclaves de civilização surgidos na virada do século 17, nas florestas luxuriantes e aterrorizantes habitadas por índios e que viriam a ser parte da Capitania de Minas Gerais. Situava-se entre os vales dos rios mencionados e equivalia a 24 mil km² (quase o tamanho de Sergipe). Em meados de 1706, o bandeirante Anhanguera descobriu ouro nas barrancas do São João. Ali, passou a explorar minas de forma clandestina e fundou o arrabalde São João do Pitangui. Em 1709, fez o mesmo no Batatal, que hoje fica no perímetro urbano e atiçou o desejo de mais mineradores por ouro.Entre os bandeirantes que chegaram à região, bem como em Brumado, Sant'Ana do Ribeirão da Onça e outros locais, estiveram Antônio Rodrigues Velho (o Velho da Taipa), os irmãos Campos Bicudo e o futuro revolucionário Domingos Rodrigues do Prado. Construíram casas de taipa e uma capela no Batatal.

 

Emancipação

Em 1715, narra o livro, Pitangui tinha população e atividades crescentes, centenas de escravos e capatazes na mineração e na lavoura. O governo português resolveu transformar o lugar em vila.Por conta disso, logo se fez a eleição da Câmara (vereadores e juízes). O livro também mostra como o território de Pitangui, tomado por índios kaxixós e abaetés, tinha grandes latifúndios (sesmarias) que, com o tempo, foram divididas em fazendas de produção agrícola.O ouro das minas financiava a expansão agropecuária e geográfica. Do "país", conta o autor, tiveram origem mais de 40 municípios que eram, naquele tempo, arraiais de povos pitanguienses.

A leitura de "O Payz do Pitanguy" ensina como o lugar foi um dos berços da civilização mineira, como uma das oito vilas do ouro criadas na década de 1710 e que foram os pilares da Capitania das Minas, em 1720.Com bases e escravaria fincadas em Pitangui, bandeirantes e sertanistas de São Paulo, Taubaté e Itu e seus descendentes penetraram as florestas da região. Estabeleceram grandes fazendas, criaram povoados e chegaram até o Desemboque, já no Triângulo Mineiro, onde encontraram ouro. Fizeram o mesmo nos territórios de Bambuí, Piũí e Patrocínio. A partir da segunda década do século do ouro (1700), Pitangui se constituiu em grande entreposto regional graças à convergência de estradas, além da ligação de bandeirantes e tropeiros às novas minas de Goiás.Mapas da época apontam "picadas" ligando Sabará a Goiás, passando por Pitangui e Paracatu. Apontam também vários registros, espécies de alfândegas no território de Pitangui.A produção agrícola era escoada com o uso de tropas de mulas e pelo deslocamento de boiadas, ou comitivas. A distribuição de bens do litoral fez com que Pitangui levasse a civilização e a cultura às mais remotas regiões do Centro-Oeste.A obra reúne, portanto, as diferentes faces da Velha Serrana. Para obtê-las, o autor mergulhou em arquivos e consultou vasta bibliografia. Análises e reflexões críticas de cunhos sociológico e político marcam presença nos capítulos sobre realidades como escravidão, aristocracia rural e estruturas de poder nos tempos coloniais. Lendas e mitos pitanguienses não foram esquecidos. Entram em cena de forma instigante, pelas histórias reais de figuras lendárias. Enriquecem a obra esboços biográficos de dezenas de bandeirantes, revolucionários, coronéis, padres e grandes damas, fidalgos da Casa Real e cavaleiros da Ordem de Cristo, destacando os que deixaram geração no município, cujos sobrenomes sobrevivem nas famílias tradicionais.

 

Historiografia

Muitos historiadores já escreveram sobre o passado pitanguiense. "O Payz do Pitanguy" é, porém, obra mais abrangente – sobretudo por conter valiosos dados históricos de Leandro Ferreira e Conceição do Pará, dois dos vários ex-distritos, além das trajetórias completas de grandes vultos, como o chefe revolucionário Domingos Rodrigues do Prado e o lendário Anhanguera (mentor, por dez anos, de líderes dos sangrentos motins e rebeliões de Pitangui, cuja batalha final, em 1720, envolveu 900 combatentes e 200 patrulheiros na maior luta colonial do lugar).Dois capítulos são dedicados a pitanguienses que se tornaram grandes vultos nacionais, como o padre Belchior Pinheiro (um dos baluartes da Independência) e Gustavo Capanema (homem inteligente, de visão de estadista e imaginação criativa, empregada na concepção e execução da maior revolução no ensino e na cultura do país).

 

Calvário

O capítulo intitulado "A devassa da Inconfidência atinge Pitangui direta e indiretamente" é outra inédita e importante contribuição para a historiografia sobre Pitangui. Relata o drama vivido por três personalidades pitanguienses que devem ser honradas como heróis em atos cívicos: padre Domingos da Silva Xavier (irmão de Tiradentes, vigário da vara de Pitangui e advogado), João Francisco das Chagas (encarcerado como conjurado por dois anos e seis meses por ser amigo do padre inconfidente José da Silva e Oliveira Rolim) e João de Souza Costa (irmão do poeta e inconfidente Cláudio Manoel da Costa). Por estas e outras informações, "O Payz do Pitanguy" promete figurar entre as obras mais abrangentes sobre a região geográfica que abriga o histórico município e de suas dezenas de ex-distritos.

 

O autor

Raimundo Rabello é mineiro de Leandro Ferreira, histórico distrito de Pitangui, emancipado em 1962. Depois de cursar o primário na terra natal, fez o ginasial e parte do segundo grau na Academia de Comércio de Belo Horizonte. Trabalhou em escritórios de indústria, ferrovia, aerovia, do Departamento de Estradas e na redação da “Revista Mineira de Engenharia” - os dois últimos, por concurso.Aprovado para o Banco do Brasil, mudou-se para São Paulo e concluiu o curso médio no Ateneu Rui Barbosa. Transferiu-se para o Rio de Janeiro e depois para Itaúna, cidade mineira onde lecionou no Colégio Sant'Ana. Graduou-se em Letras e Economia pela Universidade de Itaúna, na qual foi professor por 14 anos, diretor da Faculdade de Ciências Econômicas e membro do Conselho Universitário. No Banco do Brasil, após atuar nas cidades mencionadas, aposentou-se no nível superior da carreira administrativa. É coautor de "Centro-Oeste Mineiro - História e Cultura". Dedica-se à composição musical (MPB) e à pesquisa do passado de Minas em fontes primárias e historiográficas. Casado com Sônia, tem três filhos e cinco netos, permanecendo entre Itaúna e Belo Horizonte. Seus telefones são: (37) 3241-2092, 3241-1083, 3242-4542, bem como (31) 3517-8368, 3442-3232 e 3342-2364. Seu e-mail é: raimundorabello@yahoo.com.br.

 

O lançamento

“O Payz do Pitanguy” será lançado em breve, em data ainda não definida. É certo que haverá uma parceria do autor com a Prefeitura para a promoção e divulgação do livro na cidade. Parte das vendas dos exemplares será doada ao caixa da Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Patrimônio Histórico para serem usados na promoção de eventos relacionados ao tricentenário da cidade, em 2015.Para a elaboração total da obra, o autor consultou várias fontes, por mais de dez anos ininterruptos. Apesar disso, decidiu não obter lucro com a venda dos exemplares, pois o seu objetivo é fazer com que a obra tenha um alcance universal, com custo acessível e que possa ser adquirido em maior quantidade por empresas que poderão distribuí-lo gratuitamente. A nota fiscal será emitida diretamente da gráfica para as empresas interessadas.

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